Trader

O trader era o funcionário da exportadora responsável pelo contato com os clientes no exterior. Em um mercado competitivo como o do café, com várias exportadoras atuando na mesma Praça, a confiança era um fator importante para realizar as vendas e manter a preferência do cliente. O contato do trader com as importadoras era frequente, envolvendo viagens para os diversos países consumidores; esse profissional fazia visitas a diversos torradores nas mais diversas cidades para conhecer as necessidades de seus clientes e estabelecer vínculos pessoais. Além disso, era importante para o trader conhecer o tipo de café desejado por cada cliente para poder dar subsídios aos classificadores na formação de blends específicos.

O trader é aquele que trabalha justamente procurando a oportunidade de negócio, é ele justamente quem contata os compradores no exterior. A função do trader é permanentemente estar em contato com os compradores, trocando ideias, fornecendo todas as notícias de mercado, comentando com os compradores qual a situação do Brasil, o que se espera da safra, o que está acontecendo com outras...com transporte, se tem chuva demais, se tem problemas climáticos, se está se esperando uma geada, enfim, é um contato permanente, e aproveitando os momentos de contato pra ver se há possibilidade de se vender café. Então você está sempre numa disputa pra ser o primeiro a oferecer e conseguir o negócio. Agora, além disso, você tem que ter um contato viajando para o exterior, pra contatar essas firmas todas, pra definir exatamente qual o café que eles pretendem receber do Brasil, e você chega, cada firma ela estabelece qual é o seu café melhor para aquela determinada firma no exterior, então você passa a ter um nicho que é o seu. Certas firmas são conhecidas por fazer café de qualidade superior, outras porque fazem uma qualidade inferior, mas o fato é que café não importa qual seja a qualidade, fina, média, ruim, ela tem sempre um mercado pra esse café, e o trabalho do trader é justamente esse , ele fazer esse contato no exterior, fazer viagens, fazer visitas pessoais, manterr um relacionamento pessoal, porque o relacionamento pessoal que traz confiança, faz com que o comprador lá fora confie no que você está vendendo, no que está dizendo pra ele. Você não pode influenciá-lo a comprar, mas você pode dizer qual a situação real do mercado. Uma vez que ele confia no que você tá dizendo, ele passa a considerar você um amigo, então é muito mais fácil na hora de comprar ele ligar para você, pra comprar de você porque ele tem confiança no que você está fazendo.

Cornelio Lins Ridel Neto trabalhou como trader na Europa em diversas exportadoras de café. Depoimento cedido ao Museu do Café em 2012.

E quando eu vendia o café, eu sabia o café que tinha e o café que podia entregar. Porque eu era o trader e eu era o classificador, fazia as duas funções. Hoje, não sei mais como é nas cooperativas, mas na minha época, que eu tive que iniciar esse trabalho, eu viajei, no mínimo uns, sei lá, uns 25 países. Só na Itália, eu viajei 5 vezes a Itália toda. Pra ganhar os compradores, e na Itália são 700 torrefadores, mas pequenos, são famílias. Então você vai em cada cidade, e você vai e mostra o teu trabalho, prova com ele, depois você ganha aquele comprador né.

Justiniano de Freitas Gonzaga trabalhou como classificador de café e foi gerente de uma corretora. Depoimento cedido ao Museu do Café em 2013.