Catação de café era...chegava os sacos de café, os cafés bons ou maus e a mulherada nas mesas compridas de madeira com divisória, tinha os banquinhos e na mesa tinha uns preguinhos que se pregava os sacos e se levantava aquele saco de 60kg em duas e colocava no banquinho e se virava na mesa e aí o saco de pé, colocava-se um pauzinho pra levantar e escorrer, tinha-se o avental e catava manualmente mesmo, mão a mão como se tivesse catando feijão hoje em dia e catava o café e quando acabava o de cima tava cheio de baixo, né, então se tirava e colocava outro, e quando o café era bom, era rápido, né, era rapidinho o saco de café.
E as vezes era da Mogiana, que eu falo que era o café bom, então as vezes em 15 minutos, 20 se catava o saco de café, colocava atrás e se catava outro porque as mulheres ganhavam por saco, então quanto mais saco de café elas catassem mais elas ganhavam. Então era ali, eu do lado da minha mãe – minha mãe queria catar muito café - e eu tinha que ajudar, e quando era ruim, as muitas das vezes, era muito ruim, muito ruim, muito cheio de sujeira, de café podre, de galhos, de pedras, e muitas vezes a gente peneirava pra tirar o excesso de café pra depois catar.
Aqueles demoravam, aqueles cafés demoravam muito tempo, até 1 dia ou até mais de 1 dia pra se catar um saco café, porque ele tinha que ficar limpo, depois não adiantava se catar tudo e colocar assim atrás, porque vinha tipo o examinador, não lembro o nome que se dava, mas ele furava os sacos e pegava um pouco e dali examinava, e se achava uma sujeirinha, colocava-se de novo, aquele estava reprovado.
Aquele estava reprovado e ia pra catação de novo. Então a mulher não adiantava tentar enganar, catar e por tudo no saco de baixo está bom, porque se achasse alguma sujeirinha era tempo perdido e dinheiro também.
Maria Dias Carvalho trabalhou com a mãe em um armazém de catação de café no Valongo em Santos na década de 1960. Depoimento cedido ao Museu do Café em 2012.