O Museu do Café, em continuidade ao projeto Memórias da Praça apresenta a exposição virtual “Armazéns de Café”, com o intuito de valorizar a voz dos mais diversos trabalhadores inseridos no processo de estocagem e manuseio do café beneficiado. A exposição conta com depoimentos de fiéis de armazém, ensacadores e catadeiras, dando uma nova perspectiva do cotidiano do café na cidade de Santos.
O armazenamento do café beneficiado tem por finalidade compensar as variações cíclicas ou eventuais da produção agrícola (como geadas, pragas ou superproduções), assim como nas intervenções dirigidas para um equilíbrio de preços, o que foi muito comum no Brasil durante o século XX nas políticas de valorização do café.
O café é um produto bastante sensível às condições externas. Para guarda-lo por determinado período e conservar suas características originas, os armazéns necessitavam de uma série de cuidados. Na construção de um armazém, leva-se em conta a temperatura, condições climáticas e a umidade relativa do ar. Os pisos devem ser impermeabilizados, a ventilação e a iluminação controlada são importantes para a conservação do café.
Os armazéns também podem oferecer o rebeneficiamento, processo utilizado para melhorar a classificação comercial do café, e por consequência, seu valor. É feita a eliminação parcial das impurezas e dos grãos imperfeitos, a separação e padronização dos grãos por tamanho e formato. O rebeneficiamento pode incluir também a formação de ligas (blends) que são a mistura de diferentes lotes de café para a formação de um lote homogêneo com as características desejadas.
Armazéns em Santos
As dificuldades de transporte entre o interior e o litoral, e a função do porto de Santos de principal saída e entrada de mercadorias para a Província, fomentaram o estabelecimento de diversos armazéns pela cidade, o que se intensificou com o avanço do comércio cafeeiro no século XX.
Existiam armazéns da São Paulo Railway, da Companhia Docas, armazéns de exportadoras e de catação de café, além de empresas especializadas que serviam de fiéis depositárias do café armazenado, chamados de Armazéns Gerais.
No final da década de 1980 começa um deslocamento dos armazéns, de Santos para o Interior do estado de São Paulo, e até mesmo de outros estados. Apesar de não haver uma causa concreta para este fenômeno, ele é frequentemente creditado a desacordos entre os donos de armazéns e o sindicato dos ensacadores sobre os preços pagos pelos serviços destes, ou até mesmo a brigas fiscais entre os estados produtores, criando-se barreiras para incentivar os cafés a ficarem em seus locais de origem.
A melhoria nos transportes, o tempo de embarque e a preferência pela exportação de café a granel, também reduziu a necessidade de se manter armazéns no litoral, de modo que se tornou economicamente vantajoso o estabelecimento dos armazéns no interior, perto da produção – como no caso das cooperativas de café, que atualmente conseguem manter grandes estruturas de armazenamento.